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O aprendizado da bicicleta sem rodinhas

Eu sempre achei que para ser presente na vida dos meus filhos tinha que participar ativamente de todas as etapas da vida, como dar a primeira papinha, ajudar a andar, ensinar a andar de bicicleta. E confesso que levaram-se uns 3 anos para eu amadurecer a minha participação na vida de cada um.


Quando o Miguel começou a andar, ele queria andar sozinho, agarrava-se no sofá ou qualquer coisa que estava a sua frente para sentir as pernas tocarem o chão, até encontrar o seu próprio equilíbrio. Eu queria tanto participar daquele momento que prontamente já pegava a mãozinha dele e dizia como deveria andar.


Não imaginava que equilíbrio não dá para ensinar, precisa-se sentir.

Ele já sabia disso! Ficava nervoso quando interrompia o processo dele de caminhar com as próprias pernas e eu imatura me distanciava frustrada sentindo que não era boa o suficiente.


Por muitas vezes, quando ele caiu no chão e me procurava para ajudá-lo, eu apenas o repreendia, dizendo: “Filho, você caiu porque não quis a minha ajuda”.


O tempo foi passando e fui percebendo que meus filhos tinham uma forma pessoal de vivenciar as suas experiências e que não eram as mesmas que a minha. Eu precisava lapidar a minha forma de significar a minha participação na vida deles como mãe. Incentivá-los a superar os desafios sozinhos, se assim o queriam, porém deixar um canal aberto para que pudessem compartilhar comigo as alegrias e tristezas.


Aos 4 anos, Miguel ganhou um patinete. Me perguntou como faria para usá-lo e no meio da minha explicação, que ele não prestou atenção, parou para observar um amigo no parque no patinete e foi imitá-lo. Deu certo e comemorei junto com ele. Idas e vindas, veio uma queda e um choro.


Cheguei perto e ele me repreendeu: “já sei o que você vai falar, que eu não pedi a sua ajuda e por isso eu caí”. Confesso que foi um misto de sentimentos na hora em que ouvi. De tristeza porque ele já estava condicionado a ser repreendido por mim e de alegria, porque era a primeira vez que eu de fato não estava indo repreendê-lo e sim me colocar a disposição para ajudá-lo como ele queria.


Ao relatar esta história, eu posso lembrar com nitidez a emoção do abraço dele ao perceber que eu estava ali sem julgá-lo, apenas para apoiá-lo. Inconsciente neste momento eu percebi que o meu papel de mãe era estar presente e compreendê-lo nas mais diversas experiências que a vida proporcionaria.


No dia 22 de maio, ele completou 6 anos de idade e colocou na cabeça que iria aprender a andar de bicicleta sem rodinhas. Meu marido e eu começamos a arquitetar quais os lugares levá-lo, se tiraríamos primeiro uma das rodinhas para ele acostumar e depois ficaria sem as duas, e por aí vai. Ao mesmo tempo, deixamos fluir.


Sexta feira passada fomos ao parque. Todas as crianças brincando nos brinquedos, ele senta na grama próximo a pista e começa a observar os que passeavam de bicicleta. Investiu alguns minutos. Pedia para os amigos pararem a bicicleta para saber o que faziam com as mãos e os pés ao freiar. Pediu à uma amiga emprestar a bicicleta e ela se prontificou a empurrá-lo para pegar impulso.


Escutei o meu coração e permaneci no mesmo lugar, só observando lindamente a forma dele tentar andar de bicicleta. Uma, duas, três, dez vezes tentando encaixar os pés nos pedais para movimentá-los, mas sem sucesso. Parou novamente, chega um amigo mais próximo caminhando e ele pede para o amigo andar calmamente na frente dele com intuito de entender como pedalava.


Chama a amiga novamente, pega a bicicleta emprestada e mais um empurrão. Cambaleando de um lado e de outro, frio na barriga, ele encaixa os pés no pedal, movimenta-os em círculos, abra um sorriso imenso no rosto, grita “mãe” e começa a andar de bicicleta.


Por alguns segundos pensei que não havia o ajudado em nenhum momento, mas depois pensando bem, o ato de ter administrado a minha ansiedade, ter escutado meu coração e dado a liberdade para ele aprender do jeito dele, foi a minha melhor participação. Levantei-me, ele abaixou o rosto com um sorriso que não se continha e, eu disse: “estou muito feliz por sua conquista e mais por estar ao seu lado agora”. E nos abraçamos orguhosos de nossas atitudes.


Eu aprendi que participar muitas vezes é estar presente sem interferir, sorrir com os olhos reforçando que está feliz pela conquista dos meus filhos e buscar compreender a autonomia que eles necessitam para vivenciar o mundo. Também aprendi que muitas respostas que eu busco, estão todas ao meu redor, esperando somente eu observá-las com mais atenção e intenção clara.


 

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