Meu filho atualmente está com cinco anos e, deste tempo, faz acompanhamento fonoaudiológico há mais de três anos. Obviamente as metas, desafios e preocupações mudam com o tempo, na medida em que algumas dificuldades vão sendo superadas ao mesmo tempo em que outras vão surgindo.
Quando Bernardo estava com dois anos, vocês podem imaginar que a nossa “pergunta de um milhão de dólares” era se ele iria algum dia falar ou não. Pensávamos a aquisição da linguagem verbal como a grande solução dos nossos problemas. Era como se, para se comunicar, fosse necessário falar e como se a existência da fala significasse, necessariamente, existência de comunicação funcional.
Não serei hipócrita de negar o fato de que o início da comunicação verbal, aos três anos, tenha sido motivo de muito alívio e comemoração. Mas preciso ser realista em dizer que não significou, nem de longe, o fim da preocupação com as habilidades comunicativas, tendo em vista que medir a capacidade comunicativa de uma criança simplesmente pelo fato de ela ser ou não oralizada, pode ser uma armadilha.
Exemplo: Uma criança que ainda não fala, mas se comunica funcionalmente através de PECs (comunicação através de figuras) ou LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) pode estar à frente, em termos de habilidades comunicativas, de outra que faça uso da linguagem oral, mas de forma predominantemente ecolálica (repetição, aparentemente descontextualizada, de palavras ou frases).
Por aqui, o rapazinho tem ampliado seu vocabulário a cada dia. Já faz solicitações do que quer e consegue se comunicar na primeira pessoa (o que surpreendeu até seu psiquiatra). No que diz respeito a seus maiores interesses (dinossauros, fundo do mar e animais da savana africana), possui muito mais conhecimento, aos cinco anos, que eu, do alto dos meus trinta e seis. E já arranha também umas palavras em inglês (relacionadas aos seus temas de interesse). Porém, grande parte de suas falas ainda é ecolálica ( quase sempre relacionada ao desenho do Caillou). E, pelo menos uma noite por semana ele acorda de madrugada e fica fazendo ecolalia tardia relacionada a este tema por HORAS.
O que quero dizer é que a funcionalidade da comunicação é mais importante que a forma que ela se dá. Sugiro que o objetivo final dos pais e profissionais não seja a fala em si, e sim uma criança que consiga se expressar e se fazer entendida em suas necessidades. No fim das contas é isso que irá contribuir para sua qualidade de vida, muito mais que os meios dos quais ela irá se valer para atingir tal objetivo.
Um grande abraço e até a próxima!