No “universo quase paralelo” em que muitas vezes vivem os pais de crianças com TEA (essa sensação pode não ser comum a todos, mas eu e algumas amigas compartilhamos dela), há formas bem diferentes de os pais lidarem e falarem sobre o fato de o filho estar no espectro e alguns dos discursos mais comuns podem ser completamente antagônicos.
Para mim, o mais comum deles tem como base chavões do tipo “tenho um anjo sem asas”, “fui abençoada com um filho autista”, “fui escolhida por Deus”, “sou especial” e todas as variações angelicais desses termos. O estilo “autismo comercial de margarina” não é o meu e não digo nenhuma dessas frases, mas escutá-las não me incomoda. Em contrapartida, não posso dizer o mesmo sobre o discurso oposto a este, que é baseado na ideia de “odeio e vou arrancar o autismo do meu filho” e a busca desenfreada pela tal “cura”.
Passou a ser tão comum esse discurso de ódio com relação ao transtorno a ponto de às vezes eu me sentir um peixe fora d’água por não achar que o autismo é um “corpo estranho” que se apossou do meu filho e que eu teria que fazer alguma espécie “exorcismo” para tirar isso dele. Estou sendo sincera e não irônica quando digo que não consigo pensar no autismo como algo que pudesse ser arrancado do meu filho, como se fosse um tumor ou um dente siso, por exemplo. Nem como algo que eu precise derrotar ou vencer. Inclusive, não consigo imaginar meu filho sem algumas características que dizem tanto dele. Se eu conseguisse tirar todas as peculiaridades dele, o que restaria? Outra criança, certamente. Não seria o meu Bernardo, dessa forma este não é e nunca será meu objetivo final com ele. Vejo o autismo como uma das várias características dele, como a cor dos cabelos, o sorriso lindo, sua inteligência, a adoração por dinossauros e cavalos marinhos… A primeira vez que ouvi uma pessoa dizendo algo do tipo, achei tão piegas… Hoje compreendo, pois é como me sinto.
Enfim, quando retruco esse posicionamento sou questionada até entre minhas amigas, mães de crianças no espectro: “Ah, mas então você não quer ver seu filho desenvolvendo ao máximo todo seu potencial?” – preciso responder? Claro que quero que ele se desenvolva ao máximo! Isso é o que mais quero na vida! Por isso, bato tanto na tecla da intervenção precoce para crianças com desenvolvimento atípico! Apenas não acho que o caminho para fazer isso seja “socando esse maldito autismo”. Digo isso por estar conformada com o seu grau de desenvolvimento? Jamais, mas sim pelo fato de que, no dia em que meu filho crescer e se tornar um adulto funcional e com autismo e se interessar em ler o que eu escrevi sobre nossas experiências, quero que ele perceba que sempre foi aceito incondicionalmente, exatamente da maneira que é. E que nós, os pais, nunca quisemos que ele fosse outra pessoa.
Independente de os pais publicarem relatos sobre a rotina e a experiência com o filho, quando o que está de pano de fundo dos estímulos e intervenções é uma tentativa de “cura”, isso irá aparecer e pairar de alguma forma nas relações entre os membros da família e certamente irá afetá-las profundamente. Em algum momento, a conta irá chegar. Fica a dica.
Um grande abraço e até a próxima!
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